Liderança empresarial: anima ou animus?

O aumento da participação das mulheres em cargos de liderança empresarial ainda é muito tímido. No período de 2015 a 2017, passou de 6,3% para apenas 7,7%, conforme dados da Deloitte – gigante global de serviços e consultoria. Colaborando com essa percepção, o Fórum Econômico Mundial realizado em 2018 em Davos, na Suíça, constatou que, do jeito que está, levaremos 81 anos para alcançar a igualdade de gênero. O Brasil ocupa, num ranking de 142 países, a 71ª posição.

O fato é que as mulheres continuam com menos empregos, salários menores e pouca representatividade em posições de liderança, tanto no mundo dos negócios quanto na política. E esse desperdício de talento humano impede o crescimento econômico e social.

Considerando também que 70% dos consumidores de bens de consumo são mulheres, como não trazê-las para as discussões e decisões sobre produtos e serviços úteis para a sociedade? Parece que o custo da desigualdade já é maior do que o custo da mudança desejada. Parece também que o mundo está sendo refreado pela falta de participação feminina.

Sobre isso, a COO do Facebook, Sheryl Sandberg, declarou que os preconceitos de gênero são uma parte crucial do problema:

“Nós meninas somos taxadas de ‘mandonas’, mas não fazemos o mesmo com meninos porque já é esperado que eles liderem. Há uma expressão negativa equivalente em todas as línguas de que eu tenho conhecimento. O que acontece então, é que quando as mulheres fazem as coisas que as tornam líderes, nós não gostamos delas e, portanto, não as promovemos, não votamos nelas. Os preconceitos de gênero são uma parte crucial do problema.”

A liderança, via de regra, está associada a expectativas masculinas. Vemos inclusive muitas mulheres suprimirem características femininas, como a intuição e a subjetividade, para “sobreviverem” num ambiente que cobra objetividade, racionalidade e agressividade, atributos sociais para o masculino.

Mas nossa sociedade patriarcal já se mostrou insuficiente para os desafios de transformação econômica, tecnológica e social em que vivemos. O resgate do feminino parece não ser mais uma escolha, mas um movimento universal, para homens e mulheres. Propósito, cooperação, acolhida, força interior, sustentabilidade, são elementos aclamados pelas novas gerações.

Como mudar essa realidade

Mas como homens e mulheres podem mudar essa realidade? Que elementos práticos dão condições para a melhor integração da mulher nos ambientes de trabalho? Sabemos que a transformação cultural é o maior desafio. Precisamos evoluir em 3 princípios chave:
Respeito: refere-se ao apreço e à consideração. Esse é um dos valores humanos que mais impactam na interação social. Aqui, o respeito ao corpo da mulher, às suas escolhas pessoais e à ambição profissional. Por exemplo: “quero engravidar, e agora? O que meu chefe vai pensar? Terei as mesmas oportunidades depois de ser mãe?” Um grande aprendizado para homens e mulheres respeitarem esta condição.
Diversidade: o respeito e a valorização das diferenças levam à construção de algo muito mais criativo e rico do ponto de vista humano, social e econômico. Definir metas de diversidade, dar acesso à capacitação e às oportunidades internas para mulheres na composição de quadros de liderança nas organizações favorecem a diversidade e trazem maiores resultados.
Equidade: o julgamento justo é um dos grandes desafios culturais relacionados à participação das mulheres. A equidade se refere à igualdade, simetria, retidão, imparcialidade. Por exemplo no processo seletivo: excluir efetivamente o critério homem versus mulher, já que o que se busca é a competência profissional. Valorizar a competência em detrimento do gênero é praticar equidade.

Mas, então, o que se espera da liderança empresarial: anima ou animus?

Usando como referência a psicologia analítica contemporânea, a partir dos arquéticos de Jung, vemos um novo sentido dado aos conceitos de anima e animus. Não apenas como um atributo individual para o feminino e o masculino, mas para um coletivo que traz a conexão entre os atributos internos, ou seja, da alma (Anima), e os atributos externos, ou seja, da sociedade (Animus). Então temos anima e animus mais integrados em homens e mulheres para que haja racionalidade com sensibilidade e para que haja força interior com resultados.

Os movimentos voltados à transformação digital, os novos hábitos de vida e consumo (a experiência em detrimento da posse de bens materiais), o retorno à natureza e a conectividade do mundo nos leva a integrar e equilibrar os princípios de anima e animus que compõem a experiência humana. Dar condições para que homens e mulheres integrem seus talentos e transformem as organizações e a sociedade como um todo.
Léia Wessling, diretora da Light Source

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