TRUST: o valor da Governança na Nova Economia

Por Léia Wessling

O empreendedorismo mundial está voltado tanto para a criação de novos modelos de negócios quanto para a transformação de empresas maduras. Os movimentos da nova economia trazem para o centro das transformações digitais a agilidade, a simplificação e a solução de problemas. E essa abertura para o novo, vinculada à velocidade de resposta, às tecnologias disruptivas e aos modelos pragmáticos de decisão e gestão, trazem também uma dúvida essencial sobre a sua capacidade de sustentação. É neste contexto que a governança corporativa se integra na nova economia.

Um exemplo clássico dessa integração (ou melhor, de sua ausência) foram os impactos gerados pelos escândalos de vazamento de dados ocorridos no Facebook em 2018, havendo uma reação negativa dos investidores após i empreendedorismo mundial está voltado tanto para a criação de novos modelos de negócios quanto para a transformação de empresas madurasnformação de que o lucro seria menor pelos próximos anos devido aos custos para melhorias na privacidade e no uso de publicidade. Custou para Wall Street a maior queda do mercado de ações no período, para os investidores a baixa de rentabilidade, para a marca a perda de reputação e para os usuários a insegurança de sua privacidade. O caso, apesar de ter se passado há dois anos, continua impactando, uma vez que o Facebook foi a única marca que deixou o “Top 10”em 2019, caindo de 9ª para a 14ª colocação.

Mas para que esse novo mercado mantenha um modelo veloz, desburocratizado, digital e disruptivo, o que se coloca no centro da gestão? TRUST. A confiança.

No caso do Facebook, um dos fundos controladores de suas ações protocolou proposta para mudar a governança da empresa, retirando um dos papéis daquele que exercia o cargo de CEO e presidente do conselho ao mesmo tempo. Da mesma forma, um outro exemplo foram as violações financeiras ocorridas na Nissan/Renault, pelo então presidente do conselho e diretor das empresas, que culminou em conflitos na aliança entre as empresas e questionamentos ao modelo de governança.

A própria imagem da Tesla e de seu fundador e CEO são colocadas constantemente em dúvida pelo mercado e analistas financeiros, mesmo diante do exponencial valorização de 112%, divulgado no início de 2020. Saltos elevados, para cima ou para baixo, geram desconfiança e essa parece ser uma constante na nova economia.

Três aspectos sobre confiabilidade

Esses e outros exemplos indicam que para que a nova economia traga riqueza e prosperidade para a sociedade, por meio do empreendedorismo, a confiança tende a ser altamente relevante e vinculada ao capital e valoração dos negócios — seja numa start up ou em uma empresa madura. Utilizo aqui o conceito da filósofa Onora O’Neill, que traz a confiabilidade para o centro da confiança e a distingue em três aspectos.

Sobre a Competência
Em Governança Corporativa, a competência define os papéis e responsabilidades dos diferentes envolvidos na administração de um negócio. No novo mercado, muitas competências estão se desenvolvendo na medida em que os negócios são criados. Dispor de papéis e responsabilidades claros, gerir competências e riscos gera confiança.

Sobre a Honestidade
A forma como a instituição e seus representantes reagem diante do desconhecido é fator determinante na nova economia. O incentivo ao erro é parte da construção do novo. Por isso, assumir erros é também assumir responsabilidade junto aos sócios, investidores, colaboradores e consumidores. A velocidade pode ser aliada e também uma inimiga da honestidade, e é a postura do empreendedor na tomada de decisão que indicará sua confiabilidade.

Sobre a Fidedignidade
A verdade e a autenticidade nas informações, opiniões, motivações e decisões fecha o ciclo da confiança. Não basta ser transparente. É preciso buscar e repassar corretamente as informações, estejam elas numa apresentação oral ou num relatório gerencial. O cumprimento daquilo que se promete é chave para alcançar alto nível de confiança.

Como a Governança Corporativa auxilia nesse processo

Práticas de Governança Corporativa auxiliam as empresas de diferentes portes e perfis a integrarem a velocidade da nova economia, atraírem investidores e a sustentarem o valor dos negócios. De maneira simples, clara e ágil, os negócios e seus empreendedores podem:

  • Desenvolver uma identidade autêntica e esclarecer qual problema o negócio/serviço/produto ajudam a resolver.
  • Estabelecer papéis e responsabilidades claras para os diversos participantes (internos e externos).
  • Construir acordos de fundadores e sócios, para que conflitos sejam minimizados quando surgirem — e certamente virão.
  • Aplicar práticas de gestão de empresas de capital aberto: planejamento, orçamento e relatório econômico financeiro.
  • Gerenciar indicadores vinculados à imagem, reputação, marca, cultura e impacto social.
  • Construir e gerir mapa de riscos.
  • Apoiar-se em mentores e conselheiros que tragam diversidade de práticas e conhecimentos.

Apesar das regularizações estarem muito vinculadas ao cumprimento de requisitos  de Governança Corporativa, neste universo de desburocratizações, agilidade e conectividade, as relações estão se mostrando mais relevantes, pois é por meio delas que efetivamente podemos julgar o comportamento de instituições e pessoas.

Trust na nova economia gera valor.

 

Léia Wessling é psicóloga, empresária e consultora. É diretora da Light Source.

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