Psiquê feminina como vértice da liderança no novo normal
Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, considerada premiê mais popular do país do último século. Crédito Getty Images
Por Léia Wessling
O ano de 2020 já entrou para a história da humanidade por uma crise de alcance sistêmico (biológico, econômico e social) e global, pondo lideranças e populações inteiras à prova. Enquanto vemos alguns líderes nervosos, negando a crise e aguardando passar para que possam seguir com seus planos de normalidade, vemos outros compreendendo o contexto, desenvolvendo planos de enfrentamento e lançando perspectivas para o pós-crise.
Apesar da estagnação global existente nas últimas décadas sobre a ascensão das mulheres a cargos de liderança e dos dilemas de equidade de gênero, temos visto também notícias da liderança feminina como fator de diferenciação no enfrentamento de crises.
Angela Merkel, da Alemanha, dirigiu-se à população em tom claro e senso de urgência sobre a abrangência da crise (que alcançaria 70% da população) e sua gravidade (sugerindo ampla responsabilidade individual). E pediu que todos levassem a situação a sério.
Jacinda Ardern, da Nova Zelândia, agiu imediatamente bloqueando a entrada de estrangeiros, exigindo o autoisolamento e moderando níveis de restrição à circulação, sendo o primeiro país a eliminar a transmissão comunitária.
Erna Solberg, da Noruega, surpreendeu o mundo com a iniciativa em utilizar a rede televisiva para uma conversa com crianças e jovens do país, respondendo perguntas, reconhecendo o “medo” como parte do processo e também comprometendo as famílias com as medidas de proteção necessárias.
Por muito tempo, os modelos patriarcais de liderança estiveram associados a qualidades psicológicas consideradas masculinas como a racionalidade, a agressividade e a objetividade. As transformações econômicas, sociais e de mercado, porém, têm indicado a urgência de integração com os elementos psíquicos femininos, que, via de regra, foram aprendidos por mulheres na família e na sociedade: a acolhida, a intuição e a cooperação.
Carl Jung, precursor da psicologia analítica e criador dos conceitos de anima (características psíquicas femininas presentes no inconsciente do homem) e animus (características psíquicas masculinas presentes no inconsciente da mulher), considera que cada indivíduo precisa amadurecer e trazer para a consciência a sua sombra (lado obscurecido da consciência). Para Jung, encontrar-se com a sombra é a “obra de aprendiz” no desenvolvimento de um indivíduo.
Trazer esses ensinamentos para a Liderança significa dizer que homens podem exercer modelos mais relacionais de liderança, dosando suas características masculinas e integrando elementos da psiquê feminina. Já as mulheres, para que sigam conquistando seus espaços como líderes, podem reconhecer suas características femininas mais amplamente desenvolvidas assim como acessar elementos masculinos que complementariam a sua psiquê.
Integração anima e animus
Tomando como verdade essa hipótese, diante da crise e no pós-crise, o novo normal poderá firmar-se na integração dos dois elementos psíquicos (o masculino e o feminino) nos modelos de negócio e de liderança. Significa dizer que diante de uma crise, homens e mulheres na Liderança:
- acolhem a crise para obter racionalidade sobre sua urgência e gravidade;
- mantém a proximidade e a objetividade na busca por soluções;
- integram-se à seus ecossistemas no curto, médio e longo prazos;
- cooperam para criar o novo com as comunidades e a sociedade.
As lideranças citadas acima, mais do que diferenciadas por utilizarem características psíquicas femininas, têm sido capazes de transitar amplamente de maneira consciente por anima e animus. Seria essa a vértice necessária para que executiv@s, empresári@s e líderes alcancem um novo normal por meio de suas psiquês?
Léia Wessling é psicóloga, empresária e consultora. Diretora da Light Source
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