O “S” do ESG na Cultura Organizacional e a Ética do Bem Comum
Por Léia Wessling
Diante de tantos acontecimentos, tem ficado evidente e pragmático, inclusive aos mais céticos, o ciclo de mudanças e rupturas climáticas, sociais, mercadológicas, tecnológicas e dos hábitos de vida — o que nos leva a revisitar nossas práticas culturais.
É neste contexto que o “S” do ESG (sigla para Environmental, Social e Governance) se encontra e desafia a evolução da cultura organizacional. Partindo da premissa de que não é possível um ambiente de negócios próspero em uma sociedade decadente é que se faz necessária a integração da perspectiva Social na Cultura Organizacional quase que de maneira natural, pelos motivos já apresentados.
Mas como evoluir na Jornada do S na Cultura Organizacional?
Nas palavras do especialista global Edgar Shein, “cultura organizacional é o reflexo dos valores, crenças e comportamentos das pessoas que compõem um determinado grupo”. Ele também afirma que “cultura e liderança são duas faces da mesma moeda”. Essas duas afirmações indicam que pelo desenvolvimento e pela liderança empresarial e de mercado, é possível promover mudanças e, principalmente, uma integração entre diferentes stakeholders, ou uma “governança de stakeholders”, como preconiza de maneira essencial o conceito do ESG.
Cultura Organização é estratégica para gerar valor
A Cultura Organizacional, diante deste contexto, passa a ter relevância estratégia e a gerar valor e diferenciação aos negócios, uma vez que culturas e marcas com senso de propósito e orientadas por valores trazem resultados de retenção e engajamento de pessoas (clientes, colaboradores e fornecedores) muito maiores, a saber:
- Empresas com senso claro de finalidade são as novas líderes em retenção de clientes, com uma taxa de retenção de 75%;
- Investimentos focados na ativação de empresa movidas por CULTURA e PROPÓSITO geram retornos anuais médios mais altos em 13% comparado às empresas listadas na S&P 500 (4%);
- “MARCAS SIGNIFICATIVAS” ligadas ao bem-estar humano superaram o mercado de ações em 120%;
- Três vezes maior é a probabilidade dos colaboradores ficarem em uma organização orientada por CULTURA e PROPÓSITO. Eles também são 1,4 vezes mais engajados.
Para chegar a esses resultados, onde a cultura de fato gera valor aos negócios e aos seus stakeholders, a empresa precisará enfrentar três grandes desafios:
Desafio 1 – Ampliar o nível de consciência, portanto de autoconhecimento. Isso significa reconhecer e integrar Propósito, Visão de Longo Prazo, Valores e Comportamentos, Lideranças, Estratégias e modelo de Governança.
Desafio 2 – Remover as disfunções da Cultura. Isso significa atuar diretamente e com assertividade nas mudanças voltadas aos processos-chave, rituais da Liderança e comportamentos novos, superando velhos hábitos e uma visão integrada stakeholders. Novos hábitos de vida e sociedade exigem novos hábitos da organização.
Desafio 3 – Promover balanceamento. Isso significa que a empresa precisa praticar a escuta sobre as expectativas de todos os seus stakeholders, para então propor novos modelos e formatos de trabalho, de negócios e de produtos/serviços que promovam uma experiência positiva e que mantenham o engajamento e o desenvolvimento social.
Década da Ação
Estamos na década da ação e da promoção da chamada “materialidade”. Por isso, a agenda prioritária do S na Cultura Organizacional precisa estar voltada às pessoas que nela trabalham e aos vinculados à sua cadeia de valor; nos consumidores e clientes; e nas comunidades direta ou indiretamente afetadas pela prática empresarial.
A Jornada da sustentabilidade na Cultura Organizacional passa por etapas e convida à participação de diversos públicos de interesse. É claro que, como já mencionado, se inicia sempre de dentro para fora. Aqui, de maneira resumida, cinco etapas que orientam este trajeto.
- Revisite a cultura e o propósito, em linha com a estratégia
- Identifique e escute seus públicos de relacionamento e influência
- Mapeie riscos e priorize os temas materiais da organização
- Gerencie e engaje a sua cadeia de valor com uma agenda de Cultura e Sustentabilidade
- Estabeleça metas e reconheça resultados de curto, médio e longo prazos
O desenvolvimento sustentável requer clareza de propósito e consciência ética a respeito do melhor aproveitamento dos recursos para satisfazer as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em continuarem sustentando e atendendo suas próprias necessidades.
O S da Cultura Organizacional é equivalente à “ética do bem comum”.
Léia Wessling é psicóloga e sócia-diretora da Light Source
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