Trabalho, Profissão e Carreira – O que o Futuro Reserva?

Por Brena Fritzen e Léia Wessling

O trabalho possui um papel central na vida das pessoas, caracterizando-se como estruturante da identidade. Além de ser uma forma de ganhar a vida, o trabalho é uma maneira de inserir-se em grupos sociais.

A palavra “carreira” possui uma rica etimologia e um significado profundo que remete à ideia de trajetória e percurso. Derivada do latim “carraria”, que se refere a um caminho por onde passam carros ou carruagens, a palavra evoluiu para designar qualquer tipo de caminho ou rota. Nesse contexto, a carreira representa não apenas a progressão profissional de um indivíduo, mas também a jornada que ele trilha ao longo da vida, cheia de escolhas, mudanças e desafios.

A Evolução da Carreira e o Papel do Profissional

No passado, a estabilidade na carreira era o objetivo principal. Um emprego seguro em uma única empresa era sinônimo de sucesso e segurança. O profissional frequentemente tinha seu trajeto delineado pela organização, que oferecia um plano de carreira bem definido, onde o crescimento dependia do tempo de serviço e da fidelidade à empresa. A realização profissional era medida pelos anos de serviço na empresa, e iniciar e aposentar-se na mesma organização era visto como o auge do reconhecimento, tanto para a família quanto para a comunidade. A progressão linear e quase certa demandava empenho, eficiência e lealdade do profissional, e muitas vezes estava reservada a homens brancos, já que as oportunidades de carreira eram um privilégio restrito a poucos, baseadas em critérios de gênero e etnia.

No entanto, Everett Hughes, em 1934, já afirmava que o indivíduo tem um papel transformador sobre as instituições como forma de construir sua carreira, e que, nesse processo de desenvolvimento profissional, também transforma as organizações.

A globalização, a revolução tecnológica e as novas formas de trabalho trouxeram consigo a necessidade de flexibilidade e adaptação. Nesse contexto, a carreira passou a ser vista como uma construção pessoal, onde o indivíduo é o protagonista. A carreira interna, ou seja, aquela construída a partir das ambições e valores pessoais, tornou-se mais presente.

A linha reta anteriormente vista como uma progressão quase certa, agora é percebida como uma estrada descontínua e instável, com altos e baixos e maior diversidade, trazendo o protagonismo para o profissional, que precisa se responsabilizar pelo cuidado e construção de sua carreira. O profissional atual busca mais desafios e realizações do que estabilidade. Características antes vistas como insubordinação ou agitação no ambiente de trabalho agora são consideradas competências desejáveis, como criatividade, proatividade e capacidade de se conectar com as pessoas.

Competências do Futuro

Segundo relatório do Fórum Econômico Mundial (2023), a habilidade de pensamento analítico ocupa a primeira posição entre as Competências do Futuro, sendo, portanto, a mais valorizada pelas empresas. Em seguida, destacam-se o pensamento criativo, resiliência, flexibilidade e agilidade, motivação e autoconsciência, curiosidade e aprendizagem ao longo da vida. A alfabetização tecnológica aparece na sexta posição.

Confira abaixo a lista completa:

Nessa via, a gestão de carreira envolve agora duas partes: tanto a organização quanto o profissional. Se, por um lado, a carreira é uma propriedade individual, por outro, enquanto participantes de uma organização, ela demanda suporte e desenvolvimento pelas empresas. Sucesso e carreira agora podem significar uma infinidade de coisas, muitas vezes nem relacionadas a um cargo ou posição específica. O profissional decide o que é sucesso, e não mais o meio social em que vive, pois satisfação e realização ganharam mais espaço.

Planejamento de Vida e Carreira

Há algumas décadas a temática de carreira passou a ser entendida como uma construção de projetos de vida, impulsionada pelas mudanças e flexibilização no mundo do trabalho, que se tornou mais fluido e dinâmico. Dessa forma, passou-se a realizar interfaces tanto com processos tradicionais da gestão de pessoas, como avaliação de desempenho, treinamento e desenvolvimento, quanto com procedimentos contemporâneos, como gestão de carreira, mentoring e counseling, além de dialogar com temas de estudo como competências, liderança, identidade e aprendizagem organizacional.

Tradicionalmente, a orientação de carreira, tinha como objetivo auxiliar o adolescente na entrada ao curso superior ou ensino técnico, e na entrada no mercado de trabalho após o término dos estudos, o auxílio ao adulto na re-inserção no mercado após uma demissão ou troca de trabalho, e, posteriormente, na preparação para a aposentadoria.

Hoje, vivemos em um mundo mais fluido e repleto de possibilidades durante o ciclo vital. Um jovem que está terminando a escola pode buscar um programa de high school, work experience ou seguir o caminho do empreendedorismo, inserindo-se diretamente no mercado, sem entrar no ensino superior. Caso deseje seguir para a universidade, pode buscar diversos estágios, summer jobs e experiências profissionais junto aos estudos; ou mesmo não se interessar pela primeira escolha de curso, e buscar uma segunda ou terceira opção, que faça mais sentido com suas aspirações e aptidões.

Um indivíduo de meia idade que seguiu carreira em uma determinada área, durante uma década ou mais, pode se ver obrigado a se reinventar e seguir um novo rumo, ou mesmo fazê-lo por vontade própria, ao perceber que aquele caminho não faz mais sentido para si. O planejamento para uma terceira carreira também se torna cada vez mais presente, junto do aumento da expectativa de vida.

O mundo contemporâneo clama muito mais pela flexibilidade, adaptabilidade e o desenvolvimento de competências, do que por “seguir o script”. Além disso, o autoconhecimento, entendimento de suas forças e barreiras, além da compreensão de seus valores inegociáveis, tornam-se norteadores importantes. Muitas vezes, imerso em tantas outras demandas, pode ser difícil construir tudo isso sozinho, sem uma facilitação.

Estratégias de Sucesso – Mentoria e Orientação de Carreira

De acordo com o Center for Creative Leadership, o mentoring contribui para a criação de uma rede de “aprendizado em cascata”, garantindo que o conhecimento esteja sempre em movimento. Nesse sentido, a orientação e mentoria de carreira vem se tornando um aliado importante na construção da realização profissional, podendo estar presentes durante todo o ciclo vital.

Há pessoas que assumem a postura de Zeca Pagodinho diante das escolhas relacionadas à carreira: “Deixa a vida me levar, vida leva eu”. Mas, como diz a frase de “Alice no País das Maravilhas”, “Para quem não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve”. Portanto, é melhor planejar. Planejamento, seguido da ação, são ótimos aliados. No entanto, agir sem planejar também pode comprometer o que se deseja alcançar.

O planejamento pessoal é um elemento que permite aumentar a previsibilidade em relação ao futuro, antecipando mudanças internas e externas e preparando-se para enfrentá-las.

Assim como as empresas precisam de um planejamento estratégico, também é importante que saibamos quais são nossas aspirações e os passos necessários para alcançá-las em nossas carreiras. Isso é um compromisso que assumimos conosco, com nossa realização profissional e com a realização das pessoas que amamos, como nossos filhos. Da mesma forma que um guia pode ajudar no caminho de uma trilha, a mentoria de carreira ou orientação profissional também pode ser um ótimo aliado na construção da realização durante todo o ciclo de vida.

Referências

Luna, I., Mattos, V. (2020). Intervenções de carreira ao longo da vida: perspectivas e desafios. (1ed.). Brazil Publishing. ISBN 978-65-5861-061-8

Bendassolli, P. F., Borges-Andrade, J. E. (2015). Dicionário de psicologia do trabalho e das organizações (Orgs). (pp. 155-161). ISBN 978-85-8040-480-7

Wessling, L.; Weber, R. (2022). Sucessão: do oráculo de Delfos à mesa corporativa. Nave Editora.

Léia Wessling é psicóloga e sócia-diretora da Light Source
Brena Fritzen é psicóloga e consultora da Light Source